A música pop tem sido “All about the bass”! Meghan Trainor entoou o hino da atualidade ao celebrar suas formas, valorizando bundas prósperas, que tem como equivalente em inglês “booty”. Nicki Minaj, Jennifer Lopez e Iggy Azalea balançaram devidamente seus traseiros, enquanto Kim Kardashian posou nua sustentando uma taça de espumante nas curvas de trás. Essa semana a comoção foi por Paolla Oliveira, que exibiu por um curto espaço de tempo suas dádivas da retaguarda em rede nacional. Em um momento de pré carnaval, o poder das carnes dá o que falar.
No Brasil, uma bunda de tanajura é grande, enquanto tico-tico arrebitada. O bunda mole é aquele sem iniciativa, enquanto quem a tem virada para a Lua é cheio de sorte. Mas a bunda está em nosso imaginário bem antes de Globelezas e calcinhas fio dental. Sandro Boticelli pintava as mulheres da corte italiana em formas arredondadas e livres, envolvidas por tecidos transparentes e anjos. Uma sexualidade inocente. Tudo tinha a ver com o significado da palavra “Renascimento”, que significa “Renascer”. O que estava renascendo? A era clássica da Grécia, quando o nu era o mais perfeito estado.
O Renascimento foi um movimento cultural que começou em Florença, em 1400, depois se espalhou por toda a Europa, e durou até os primeiros anos do século XVI. Tal período idolatrava a arte e a literatura desde as antigas civilizações da Roma e da Grécia, mudando a percepção do belo. A beleza era mais voluptuosa do que em qualquer outro momento da história. Naquela época os seus valores e formas, repletos de bundas gordas – “I got a big fat ass”/”Eu tenho uma grande bunda gorda”, como diria Minaj – foram consideradas o esplendor da sensualidade.
Renasceu também a figura de Vênus da mitologia grega na pintura de Botticelli, uma mulher que brotou do mar nua, possuindo suas formas majestosamente, sem dar satisfações. A forma natural de uma mulher – como dado a ela por Deus ou como ela possuía sendo uma deusa – foi considerada absolutamente perfeita.
De volta ao mundo pop, Bootylicious , uma combinação da palavra booty (quadril) e delicious (delicioso), entrou pros dicionários em 2006, quando Beyoncé ainda cantava como uma Destiny’s Child. Bey disse que o termo é direcionado a todos que se sentem bem com seu corpo. Se a apreciação renascentista toma o nosso mundo pop, mesmo que as avessas, que ocupe o corpo todo.
BootyCelli, a forma mais redonda unida ao amor pelo corpo natural do renascimento.
E como poetizava Drummond:
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